True Detective – S01E05 – The Secret Fate of All Life

Que Rust era tratado pelos detetives Papania e Gilbough como um suspeito e não colaborador, estava evidente desde os primeiros episódios, mas descobrir do que estão o acusando é apenas uma das diversas descobertas do estressante e intrigante episódio The Secrete Fate of All Life. Homem de alma corrosiva – a tradução literal do seu nome é Ferrugem -, atormentado por sombras, demônios e crise aguda existencialista, Rust encontrou na caçada de um assassino em série a chance de desatar o arame farpado que circunda a própria alma. Então, quando a investigação o encaminha ao círculo fechado (e plano) na figura do enigmática Reggie Ledoux e sentimos a respiração de Matthew McConaughey alterar significativamente, a nossos olhos, não há motivo para duvidar da integridade e inocência de Rust.

A cena que define Martin como policial, ao explodir o cérebro de Reggie a queima-roupa, também é outra pista nesse sentido, a tal justiça com que ele escusa o parceiro e que os alça imediatamente a condição de heróis locais. Parece que a vida voltou ao trilho no período anos que separa 1995 e 2002, registrado por um elipse envolvendo um tiara presa nos galhos de uma árvore. Rust entrou em termos com a morte da família, ao que tudo indica, está namorando uma médica (possivelmente, colega de Maggie) e aceitou contribuir como interrogador. Por sua vez, Martin foi perdoado pela esposa no ringue de patinação (mais um círculo plano), apesar de ter perdido uma parte de si, a qual vislumbra ao encarar a fivela do cinto de caubói que usava antes.

Tudo muda quando um acusado cospe as palavras mágicas “O Rei Amarelo” e redesperta em Rust a obsessão investigativa que lhe completa, por piores que sejam as consequências na vida dele. Esta afirmação o leva novamente ao encalço do culto de Billy Lee Tutle, que em 2012 está morto, e o devolve ao círculo plano ao qual Reggie ora se referiu, ou melhor, uma espiral, semelhante ao símbolo marcado em Dora Lange e que alucinou ter visto na dança das aves do segundo episódio, rumo ao porão escuro que nos espera nos próximos episódios, cheio das esculturas de madeira, imagens assustadoras pintadas em paredes e a atmosfera lúgubre da morte ao redor. Uma prisão circular em que está preso há mais de 17 anos!

Tanta divagação é inspirada pelo próprio desenho da temporada, cujo destaque talvez nem seja tanto Matthew McConaughey e Woody Harrelson (que estão soberbos), a direção calculista de Cary Fukunaga e o design de produção sufocante de maneira geral, mas a inteligência de Nic Pizzolatto em alterar a nossa percepção a cada novo episódio. O que parecia ser a típica investigação procedimental de um crime bizarro migrou o foco para a relação entre detetives separados por um abismo de incongruências, mormente religiosas e filosóficas, e, antes do enfoque psicológico do novo episódio, ainda brincou de ser um drama policial de ação e um estudo de personagens competentíssimo.

Resta-nos aguardar que surpresas estão separadas por Fukunaga que, com uma trama gigantesca expandindo-se por quase 2 décadas e envolvendo dezenas de personagens, parece ter tudo sob controle. Diferente de Rust e Martin dentro do quarto escuro, trancado e circular das próprias vidas.

P.S.: Muito tem se falado sobre a influência do conto escrito por Robert W. Chambers em 1895, O Rei Amarelo. Se desejar ler, clique no link (em inglês).

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